26 de set. de 2014

Salão de Hanôver 2014

Salão de Hanôver 2014

Hanôver/Alemanha – O Brasil já foi bem mais popular no cenário automotivo mundial. Mas, de solução, agora é encarado como problema. Isso ficou evidente na 65ª edição do Internationale Automobil-Ausstellung Nutzfahrzeuge, o IAA. O nome em alemão pode ser traduzido como "Exposição Internacional de Veículos Comerciais", mas o evento bianual é mais conhecido no mercado brasileiro simplesmente como Salão de Hanôver. Na edição de 2014 do maior motorshow de caminhões, ônibus e veículos comerciais do mundo, a atual queda nas vendas no mercado brasileiro, que há tempos era visto como um oásis de crescimento em meio à retração planetária no setor, foi responsabilizada por diversos números pouco animadores de vendas globais. Se os mercados centrais – Europa, América do Norte e Japão – até ensaiam tímidas recuperações depois da longa pasmaceira deflagrada pela crise de 2008, as expressivas quedas das comercializações no Mercosul nos últimos dois anos, puxadas pelo Brasil e pela Argentina, derrubaram muitos balanços. Algo que, no Salão de Hanôver 2014, provocou sorrisos amarelos de inquietação nos executivos de muitas empresas do setor. 

Veja também:

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Nesse mercado global em transformação, onde europeus e norte-americanos parecem finalmente ter retomado – ainda que discretamente – o fôlego e o protagonismo, as empresas do setor aproveitaram a mostra germânica para tentar se reposicionar e ganhar vantagem em relação à concorrência. Para algumas, a estratégia é aproveitar a visibilidade do evento para se afirmar como detentoras de tecnologias superiores. As alemãs Mercedes-Benz e ZF se sentiram em casa para apresentar protótipos futuristas para o transporte pesado. A fabricante de transmissões e outros componentes automotivos com sede em Friedrichshafen exibiu no campo de provas do evento o seu Innovation Truck, que oferece a possibilidade de ser manobrado remotamente, em baixas velocidades, através de um tablet - como se fosse um carrinho de controle remoto. Já a marca da estrela de três pontas sediada em Stuttgart revelou o protótipo Future Truck 2025, com seus conceitos de como serão os caminhões dentro de uma década – com destaque para os sistemas de condução autônoma, sem a intervenção do motorista.  Também na proposta futurista – com direito ao tema de "Star Wars" como música de fundo durante a apresentação à imprensa mundial –, a italiana Iveco mostrou a versão conceitual Vision da nova geração da Daily. Com menos espalhafato, a Volkswagen apresentou a picape conceitual Tristar, com diversas soluções criativas para o aproveitamento de espaço. Mesmo sem ser futurista, quem também mexeu com a imaginação do público de Hanôver foi o Western Star 5700 Optimus Prime. O parrudo modelo da marca norte-americana exposto está decorado como o caminhão-robô protagonista da série cinematográfica "Transformers".

Mas nem só de fantasia e propostas conceituais se faz um evento automotivo – ainda mais em tempos tão difíceis quanto os atuais. Com as rodas bem fixas na realidade, alguns destaques de Hanôver já têm desembarque imediato nos mercados centrais. O MAN TGX D38, com seu motor moderno Euro 6 com reduzidos níveis de emissões, é focado no mercado europeu, assim como o Scania G410 Euro 6, recentemente eleito o "Caminhão Verde" do ano na Europa. Um argumento de marketing nada dispensável nos tempos atuais – ainda mais no Velho Continente.  Apesar da fase adversa, há até algumas novidades de Hanôver que podem dar as caras em breve no abatido Mercosul. A van Mercedes Vito já tem produção confirmada para a mesma fábrica na Argentina onde é feita a Sprinter vendida no Brasil. O caminhão médio DAF LF está cotadíssimo para ser o novo modelo da marca holandesa a ser fabricado no Paraná. E o Volvo 7900 Hybrid Articulated pode ser uma opção para a marca sueca, que já produz ônibus híbridos em Curitiba e assiste a um aumento da demanda por modelos articulados no mercado nacional. Ou seja, o Brasil até pode não estar nos seus melhores dias no panorama automotivo mundial – mas está longe de merecer desprezo.

Top Ten - Dez destaques do Salão de Hanôver 2014

ZF Innovation Truck - As empresas alemãs de componentes ZF, ZF Lenksysteme – joint venture da ZF e da Bosch – e Openmatics se juntaram para projetar um caminhão que demonstrasse como seus novos sistemas automotivos inteligentes funcionam. O protótipo do cavalo-mecânico com carreta mede 25 metros – com semirreboque e reboque – e integra avançados sistemas de transmissão, direção e telemática. O modelo é equipado com a nova transmissão automatizada TraXon Hybrid e conta com o sistema de direção com sobreposição de torque ZF Servotwin para veículos comerciais. Mas o "gadget" mais surpreendente do Innovation Truck é um aplicativo que permite que a carreta seja manobrada remotamente para a posição desejada – num pátio de estacionamento, por exemplo – através de um tablet, como em um "game". Além do novo "brinquedinho" conceitual, a ZF comemora a compra da norte-americana TRW – aquisição que a posiciona entre as três maiores empresas de componentes automotivos do mundo. E anunciou em Hanôver que irá produzir no Brasil os câmbios automáticos para veículos comerciais AS-Tronic e TraXon.

Mercedes-Benz Future Truck 2025 - A alemã Mercedes-Benz apresentou o protótipo de um cavalo mecânico que pode ser conduzido em regime autônomo – sem a intervenção do motorista – por rodovias e vias expressas. O Mercedes-Benz Future Truck 2025 é derivado do Actros 1845, com 449 cv de potência e 224,3 kgfm de torque máximo, equipado com o câmbio automatizado Mercedes PowerShift 3 de 12 marchas. Para possibilitar a condução autônoma, o Future Truck 2025 é recheado de aparatos tecnológicos, com sensores e câmaras interconectados em rede, capazes de gerar uma imagem completa do entorno do caminhão e com precisão a ponto de reconhecerem o acostamento com a ajuda das linhas delimitadoras. O sistema dispõe dos dados de um mapa digital viário em três dimensões. Ao entrar na estrada, o condutor ocupa a pista da direita e, depois de alcançar a velocidade estabelecida de 80 km/h, o sistema oferece a opção "Highway Pilot". Nesse modo, o motorista pode girar seu assento para uma posição de trabalho ou de descanso. Tanto que a cabine do modelo conta com um console central similar a uma estação de trabalho de um escritório. Além disso, o condutor tem a sua disposição um tablet removível, com tela sensível ao toque para executar outras atividades.

MAN TGX D38 - Destaque da MAN no IAA 2014, o TGX ganha esse nome em função de seu novo motor, batizado de D38. O recém-desenvolvido seis cilindros e 15.2 litros pode ser calibrado para render 520, 560 ou 640 cv de potência. O motor com turbo-alimentação de dois estágios tem torques máximos de 254,9 kgfm (520 cv), 275,3 kgfm (560 cv) e 305,9 kgfm, disponíveis em todas as marchas. Com controle de cruzeiro interligado ao GPS, o sistema reconhece aclives e declives à frente e calcula a velocidade mais econômica. Isso resulta em uma redução de combustível que pode chegar a 6% para transportes de longa distância. O trem de força recebe a transmissão TipMatic 2 em todas as suas versões. A caixa de câmbio traz três novas funções: a Speed Shifting, que reduz interrupções na tração, a EfficientRoll economiza combustível ao colocar a caixa de câmbio em ponto morto e o modo Idle Speed Driving atua nos engarrafamentos e nas manobras, contando com alto torque na mais baixa velocidade.

DAF LF - O DAF LF é um caminhão de distribuição de 12 toneladas com para-lamas, spoiler e defletor criados especificamente para melhorar a aerodinâmica e reduzir as emissões de poluentes com a economia de combustível. De acordo com a marca holandesa, o cavalo mecânico consome, em sua nova geração como motor Euro 6, uma média de 4% menos de diesel. Mas esse número chega a 8% em velocidade constante de 85 km/h. São duas opções de chassis, com 6,75 metros ou 7,05 m. O caminhão pode ser equipado com motor Paccar PX-5 de 4.5 litros, 112 cv e quatro cilindros ou o propulsor Paccar PX-7, de 6.7 litros, 253 cv e seis cilindros. Este modelo é bastante cotado para ser produzido em breve na fábrica da marca holandesa no Brasil, localizada na cidade paranaense de Ponta Grossa. Só que com uma motorização Euro 5/Proconve 7, que é padrão no mercado brasileiro, é claro.

Scania G 410 Euro 6 - Para reduzir os níveis de consumo, a Scania adotou em seu Streamline G 410 4x2 um sistema defletor de ar complementar. O resultado foi uma eficiência energética digna de conquistar o título ecológico de "Green Truck of the Year". O modelo tem a cabine-cama da linha Highline da série G e é equipado com o motor Scania de 13 litros, 6 cilindros em linha e 410 cv. O torque máximo é de 219,2 kgfm. O trem de força é completado por uma transmissão de 12 velocidades totalmente automática, que facilita a vida do motorista e é programada para auxiliar na redução do gasto de combustível. O conjunto todo faz com que o Scania G 410 consiga rodar 100 km consumindo uma média de 23,29 litros de diesel.
Western Star 5700XE Optimus Prime - De acordo com a Western Star Trucks, o XE do seu 5700XE significa “extrema eficiência”. Com grande variedade de entre-eixos e também de cabines, o modelo já é famoso no mundo inteiro. Ele é um dos robôs com formas automotivas da série de filmes “Transformers”, conhecido como Optimus Prime. A marca aposta em novos recursos aerodinâmicos do capô, teto, chassis e cabine do 5700XE para reduzir o arrasto e aumentar a eficiência. O caminhão pode ter motor com até 600 cv de potência e torque de 283,4 kgfm. Mas há opções de propulsores menores, como o DD13 de 470 cv.
Iveco Vision - O conceito da marca italiana foi desenvolvido sob a ideia de uma van capaz de poluir menos sem perder suas capacidades comerciais. O Vision é equipado com um sistema de dupla energia que permite a utilização de dois tipos diferentes de tração: um elétrico, indicado para trajetos curtos, e outro híbrido, adequado para viagens longas e que diminui em até 25% as emissões de CO2 e o consumo de combustível. Para evidenciar a vocação profissional, um sistema de gerenciamento de carga utiliza uma série de sensores que identificam a carga e indicam a melhor posição para ela no interior do veículo. A partir dessa identificação, são acionados dispositivos de contenção que impedem a movimentação de cargas.
Mercedes-Benz Vito - Versão comercial do Classe V, sucessor do Viano, o Vito será produzido em 2015 na fábrica de Virrey del Pino, na Argentina. Trata-se de um comercial leve menor que a Sprinter com capacidade de carga de 1.369 kg e três versões: furgão de carga, furgão misto de carga e passageiros e apenas passageiros. O modelo ainda não tem data marcada para chegar ao Brasil e, além da usual tração traseira, disponibiliza também a opção de tração dianteira, associada ao motor 1.6 CDI movido a diesel com potências de 88 cv ou 114 cv. Já as versões com rodas motrizes traseiras contemplam o motor 2.1 CDI a diesel com três opções de potência: 136 cv, 163 cv ou 190 cv.
Volkswagen Tristar - Num exercício da futurologia, a Volkswagen mostrou a picape Tristar. O conceito antecipa como será a próxima geração de veículos comerciais da marca alemã, que deve surgir no ano que vem. De acordo com a fabricante, o modelo adota um motor turbodiesel de 2.0 litros de 204 cv e 45,9 kgfm de torque acoplado a uma transmissão automatizada de dupla embreagem e sete marchas. Já o visual do protótipo é inspirado na van Transporter – hoje em sua quinta geração. Assim como o interior, onde o painel é semelhante ao veículo vendido há mais de 60 anos. O habitáculo ainda ostenta bancos giratórios, uma mesa tablet com tela de 20 polegadas, sistema para videoconferência, mesa para refeição e também uma máquina de café embutida atrás do banco do motorista. Alguns itens, definitivamente, não devem ser levados em consideração em uma versão de produção.
Volvo 7900 Hybrid Articulated - Os ônibus híbridos apareceram em profusão em Hanôver. Um dos mais vistosos é o ônibus articulado da Volvo, que tem capacidade para transportar 154 passageiros com consumo de combustível até 30% menor do que o modelo diesel atual. Vendido para algumas cidades europeias e com produção em série iniciada no começo deste ano, o Volvo 7900 Hybrid é equipado com um propulsor a diesel 5.0 de 240 cv e 92,8 kgfm de torque aprovado pelas normas Euro 6 que trabalha em conjunto com um elétrico de 150 kW. Com 18 metros de comprimento, o ônibus armazena a energia das frenagens na bateria para, posteriormente, utilizá-la pelo motor. De acordo com a Volvo, o modelo reduz em 87% as emissões de nitrogênio e 50% as emissões de partículas poluentes. Como a marca sueca já produz ônibus híbridos em Curitiba e a demanda por modelos articulados no Brasil anda aquecida em virtude dos diversos BRTs em fase de implementação no país, pode ser que o 7900 Hybrid Articulated acabe nas linhas de montagem paranaenses, em versão com motor Euro 5.

Autor: Luiz Humberto Monteiro Pereira (Auto Press)
Fotos: Luiz Humberto Monteiro Pereira/Carta Z Notícias

Reversão de expectativas - De "namoradinho do mundo", Brasil se transforma em "vilão global" no Salão de Hanôver 2014

Fonte: Salão do Carro
Categoria: Caminhões
Publicado em: 25 Sep 2014 08:30:00
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